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Ano 33 | Maio 2025 | Edição 421 O O ADIANTE DO MOVER Governo publica decreto com metas de eficiência energética, adoção de sistemas de segurança e reciclagem, mas ainda falta regulamentar muitas regras From the Top Igor Calvet, da Anfavea DEZ ANOS DE JEEP EM PERNAMBUCO E o Avenger chega em 2026 O MAIOR SALÃO DO MUNDO Auto Shanghai mostra força da China NOVO RECORDE NA AUTOMEC 105 mil visitantes e 223 mil contatos

» ÍNDICE Maio 2025 | AutoData Divulgação/GM 36 WHB Com juros altos fabricantes, concessionários e locadoras começam a baixar suas expectativas de mercado Feira mostra a força da indústria de autopeças da ilha asiática de olho no aumento de suas exportações Decreto traz os requisitos obrigatórios de eficiência energética, segurança e reciclagem dos veículos à venda no País, mas faltam regulamentações Novo SUV de entrada da marca começa a ser produzido no País em 2026, provavelmente em Porto Real Tabelas atualizadas trazem aportes programados de R$ 118,5 bilhões no Brasil por fabricantes de veículos Feira dedicada ao aftermarket de peças e serviços automotivos somou 105 mil visitantes em cinco dias no SP Expo O maior salão automotivo do mundo é feito para os chineses, mas muitos lançamentos chegarão ao Brasil Após uma década de produção fábrica em Goiana se prepara para rececer plataforma com opções de eletrificação Fábrica em Resente ou por transformações para produzir mais dois novos SUVs e motor turboflex Fabricante de caminhões revela valor dos aportes que fará para ampliar a fábrica de Ponta Grossa Centro tecnológico no Brasil trabalha 24 horas para desenvolver motores mais eficientes, biocombustíveis e biomateriais EVENTO AUTODATA PERSPECTIVAS AUTOMÓVEIS TAIWAN 360° MOBILITY MEGA SHOW POLÍTICA INDUSTRIAL MOVER DÁ UM O À FRENTE MAIS UM JEEP NACIONAL VEM AÍ O AVENGER INDÚSTRIA OS INVESTIMENTOS A MAIOR DE TODAS AUTOMEC CRESCE MAIS CHINA AUTO SHANGHAI 2025 DEZ ANOS EM PERNAMBUCO JEEP PRODUZIU 1,3 MILHÃO NISSAN NOVO KICKS EM PRODUÇÃO DAF INVESTIMENTO DE R$ 950 MILHÕES ENGENHARIA MAHLE FAZ P&D EM TRÊS TURNOS 18 32 44 52 64 24 38 54 58 62 68 10 FROM THE TOP Igor Calvet, novo presidente executivo da Anfavea, conta como será o novo modelo de gestão da entidade e suas prioridades no cargo. GENTE & NEGÓCIOS Notícias da indústria automotiva e movimentações de executivos pela cobertura da Agência AutoData. 70 6 73 LENTES FIM DE PAPO Os bastidores do setor automotivo. E as cutucadas nos vespeiros que ninguém cutuca. As frases e os números mais relevantes e irrelevantes do mês, escolhidos a dedo pela nossa redação.

» EDITORIAL AutoData | Maio 2025 Diretor de Redação Leandro Alves Conselho Editorial Isidore Nahoum, Leandro Alves, Márcio Stéfani, Pedro Stéfani, Vicente Alessi, filho Redação Pedro Kutney, editor Colaboraram nesta edição André Barros, Caio Bednarski, Lucia Camargo Nunes, Soraia Abreu Pedrozo Projeto gráfico/arte Romeu Bassi Neto Fotografia DR/divulgação Capa Gorodenkoff/shutterstock Comercial e publicidade tel. PABX 11 3202 2727: André Martins, Luiz Giadas s/atendimento ao cliente tel. PABX 11 3202 2727 Departamento istrativo e financeiro Isidore Nahoum, conselheiro, Thelma Melkunas, Hidelbrando C de Oliveira, Vanessa Vianna ISN 1415-7756 AutoData é publicação da AutoData Editora e Eventos Ltda., Av. Guido Caloi, 1000, bloco 5, 4º andar, sala 434, 05802-140, Jardim São Luís, São Paulo, SP, Brasil. É proibida a reprodução sem prévia autorização mas permitida a citação desde que identificada a fonte. Jornalista responsável Leandro Alves, MTb 30 411/SP autodata.com.br AutoDataEditora autodata-editora autodataseminarios autodataseminarios Por Pedro Kutney, editor A conta precisa fechar No mundo automotivo o Brasil continua na incômoda posição de ser um mercado relativamente pequeno dentre os maiores produtores de veículos do mundo. Abriga-se aqui muita indústria para vendas internas e externas que, entra ano, sai ano, utilizam pouco mais ou pouco menos da metade da capacidade das muitas instalações industriais no País. E tudo pode piorar. Com a sabotagem dos juros subindo as vendas domésticas começam a andar de lado enquanto as exportações também não avançam no ritmo que seria necessário para ocupar a ociosidade das fábricas. E mais gente quer dividir este bolo: as fabricantes chinesas chegaram com voracidade e importações que nos primeiros quatro meses de 2025 já cresceram 28%, em mercado que, no geral, avançou só 3,4% no período. A China também prospera nos vizinhos: segundo dados da Anfavea há dez anos as exportações do Brasil representavam 25% dos veículos vendidos nos países latino-americanos, hoje são apenas 13% e caindo, enquanto no mesmo período a penetração de carros da China na região saltou de 5% para 20%, e subindo. Estas contas não fecham para um país que quer ter indústria automotiva sustentável. É preciso fazer mais e mais rápido. Em sua primeira entrevista publicada nesta AutoData o novo presidente executivo da Anfavea, Igor Calvet, tem boas ideias que escala como prioridades de sua gestão na entidade: “Introdução e o a novas tecnologias, redução de custos e localização da produção”, ele diz. E raciocina: “Se conseguirmos reduzir custos e tivermos o a tecnologias, de preferência produzidas no País, já alcançaremos um nível de competitividade muito maior do que temos hoje”. O problema é fazer estas coisas acontecerem na velocidade necessária. O festejado Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, patinou por mais de um ano até o governo publicar um decreto complementar que regulamenta requisitos obrigatórios de eficiência energética, sistemas de segurança e reciclagem para todos os veículos à venda no Brasil, tema da reportagem que estampa a capa desta edição. Aprovou-se tudo que já era esperado com muitas indefinições que só serão definidas por oito portarias que ainda faltam ser publicadas. O IPI Verde? Está parado no Ministério da Fazenda e sua aplicação é objeto de discordância dos fabricantes que não serão beneficiados pela redução do imposto. Se quiser ser competitivo o País precisa acelerar e bem pode copiar o exemplo da China, que copiou a indústria ocidental e criou seus próprios padrões para atingir competitividade internacional e crescimento sem precedentes, como exposto no gigantismo do Auto Shanghai 2025, também exibido em reportagem especial desta AutoData. São leituras que, quem sabe, podem acender luzes nas cabeças dos formuladores de políticas e dos executivos do setor automotivo brasileiro.

6 LENTES Maio 2025 | AutoData Por Vicente Alessi, filho Sugestões, críticas, comentários, ofensas e assemelhados para esta coluna podem ser dirigidos para o e-mail [email protected] COMISSÕES DA VERDADE Não disponho de melhores informações do que todos nós. Mas, cada uma de sua vez, General Motors e Scania entram na dança com relação às suas ligações diretas com a ditadura militar, aquela que vigorou de 1964 a 1985. Com relação à GM há denúncia de ex-funcionário que teria sido detido no local de trabalho e torturado lá mesmo. Trata-se de denúncia recente, inédita, feita por Martinho Leal Campos. COMISSÕES DA VERDADE 2 No caso da Scania as provas apresentadas pela Associação de Acionistas Críticos da Alemanha mostram “como funcionários foram espionados e confirmam a demissão ilegal de funcionários dissidentes, a preparação e a distribuição das chamadas listas sujas, com base nas quais os trabalhadores em questão foram demitidos: como seus nomes apareciam nestas listas não conseguiram encontrar emprego em outras empresas”. Mais: “A acusação mais grave diz respeito ao papel histórico do diretor presidente de longa data da Scania Brasil, João Baptista Leopoldo Figueiredo, que, de acordo com reportagem do jornal O Globo, esteve pessoalmente envolvido na arrecadação de fundos para o centro de tortura OBAN, Operação Bandeirante, mais tarde conhecido pelo nome DOI-CODI, Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna. COMISSÕES DA VERDADE 3 Investigações realizadas por historiadores renomados, diz a Associação de Acionistas Críticos da Alemanha, indicam “que 66 pessoas foram assassinadas na OBAN/DOI-CODI, 39 das quais morreram em decorrência de terríveis torturas”. SABIA NÃO? Analfabetos funcionais são três de cada dez cidadãos brasileiros que, ou não saber ler e escrever ou que ao saber tão pouco a ponto de não conseguir entender nem frases pequenas, simples, ou identificar preços e números em geral, como os de telefones. Estes brasileiros têm de 15 a 64 anos e perfazem 29% da população, de acordo com o Inaf, Indicador de Analfabetismo Funcional. Mais: de acordo com sua pesquisa o analfabetismo funcional cresceu no meio dos jovens de 15 a 29 anos: era de 14% em 2018 e cresceu para 16% em 2024 – a pandemia poderia ser uma das causas. SABIA NÃO? 2 A alfabetização é uma encrenca mesmo para quem detém vaga no mercado de trabalho, aponta a pesquisa: 27% destes são analfabetos funcionais, 34% atingem nível elementar de analfabetismo e 40% detêm níveis consolidados. Surpreenda-se agora: 12% dos detentores de nível mais alto de escolaridade, na forma de ensino superior – e mesmo acima – são analfabetos funcionais. Do outro lado da ponte 61% dispõem do nível consolidado de alfabetização. SABIA NÃO? 3 Também há desigualdades medidas nos diferentes grupos. 28% dos brancos são analfabetos funcionais, e 30% dos negros. E 47% dos amarelos e indígenas.

7 AutoData | Maio 2025 Reprodução Internet DISSE O FMI De acordo com dados do FMI, Fundo Monetário Internacional, o crescimento da riqueza, no mundo, em 2025, não ultraará 2,8% – contra 3,3%, última avaliação. E que ninguém sentirá mais o golpe do que os Estados Unidos: lá o crescimento se restringiria a 1,8% contra projeção inicial de 2,7%. Isto tudo medido pela PPC, paridade de poder de compra, ajustado ao custo real de bens e serviços, método preferido diante do PIB nominal, baseado nas taxas de câmbio. Medida pelo PC a economia da China, desde 2016, é maior do que a dos Estados Unidos – 33% maior: US$ 40,7 trilhões contra US$ 30,5 trilhões. Em outras palavras: a da China representa 19,7% da economia mundial, a dos Estados Unidos representa 14,7% – vem depois a União Europeia, 14,1%. DEVERÍAMOS SABER De acordo com dados do PNAD Contínua a taxa de desemprego cresceu 7% no primeiro trimestre do ano no Brasil, o que revela alta de 0,8% com relação a dezembro. Curiosamente este índice representa o menor patamar para o trimestre desde o início da série histórica da medição, em 2012. De acordo com o IBGE “a população ocupada recuou 1,3 milhão de pessoas no trimestre, coisa para 102,5 milhões, alta de 2,3% na comparação anual”. DEVERÍAMOS SABER 2 O rendimento real habitual cresceu para R$ 3 mil 420, recorde da série, alta de 1,2% no trimestre e de 4% no último ano. CONHECIMENTO ÚTIL Nos Estados Unidos a economia sofreu recuo de 0,3% no primeiro trimestre do ano, com as importações crescendo 41% enriquecidas por empresas que anteciparam compras na busca da fuga aos efeitos das tarifas iminentes. De acordo com o Washington Post o consumo das famílias caiu 1,8%. Mais: a criação de empregos foi desacelerada em abril: apenas 62 mil novas vagas.

10 FROM THE TOP » IGOR CALVET, ANFAVEA Maio 2025 | AutoData Sob nova política A escolha do Igor Calvet para ser o primeiro presidente executivo da Anfavea carrega uma série de ineditismos. Primeiro porque ele não é engenheiro, nem economista ou de empresas, é graduado em relações internacionais e doutorado em ciências políticas – algo que certamente será útil na nova política de gestão da entidade. Calvet também nunca trabalhou antes no setor automotivo, nem foi empregado de nenhum dos fabricantes de veículos associados à Anfavea, como foram todos os vinte presidentes que o antecederam desde 1956. Calvet fez carreira no setor público, primeiro no MDIC, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, em 2016, quando foi nomeado secretário de Desenvolvimento e Competitividade Industrial. Foi lá que o caminho dele cruzou com o da indústria automotiva, pois nesta época aram sobre sua mesa as muitas demandas e negociações sobre o Rota 2030, política industrial que entrou em vigor em 2019. Foi quando ele saiu do MDIC e assumiu mandato de quatro anos como presidente da ABDI, Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Já no fim de 2023 foi convidado e aceitou pular para a iniciativa privada e ser o diretor executivo da Anfavea. Com as qualidades de interlocutor do setor no governo, pouco mais de um ano depois Calvet foi escolhido em um processo seletivo para ser o primeiro presidente profissional da Anfavea, iniciando uma ampla mudança na governança da entidade. Mas o interesse maior da associação, a defesa da produção nacional, em nada mudou com sua chegada. Ao contrário, como ele conta nesta entrevista, esta será a principal prioridade de sua gestão, com palavras fortes: “Não podemos permitir a pilhagem do mercado brasileiro”. Por que o senhor decidiu deixar a carreira no setor público e se mudar para a iniciativa privada? Foi uma decorrência natural da minha carreira. No governo eu já lidava com a indústria e política industrial por quase quinze anos. O Rota 2030, antecessor do Mover, foi formulado e implementado durante a minha gestão como secretário nacional de indústria [no MDIC, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio]. A oportunidade de ar para o outro lado veio em setembro de 2023, quando concluí meu mandato na ABDI [Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial]. Coincidiu com o momento em que a Anfavea buscava um diretor executivo. Foi quando o então presidente Márcio de Lima Leite me convidou e eu fiz a transição, que foi suave, porque eu já tinha interlocução com a Anfavea e seus vice-presidentes. Pouco depois veio o convite para participar da seleção do próximo presidente em novo modelo de gestão, que não era mais indicado por uma das montadoras associadas. Entrevista a Pedro Kutney e Leandro Alves Clique aqui para assistir à versão em videocast desta entrevista

11 AutoData | Maio 2025 Divulgação/Anfavea

12 FROM THE TOP » IGOR CALVET, ANFAVEA Maio 2025 | AutoData preciso fazer com que as novas tecnologias possam ser inseridas nos processos produtivos e nos produtos das nossas empresas. A outra base do tripé é a redução de custos regulatórios e de custos de capital. Os CEOs com quem eu tenho conversado têm uma agenda extensa de diminuição de custos mas, da porta pra fora das fábricas, se não houver uma ação concertada de uma associação que represente o setor, essa agenda não a. Para tornar a indústria competitiva é preciso atuar na redução de custos de forma ampla, incluindo custo de capital, porque temos um grande problema de juros altos no Brasil, também falo de custo logístico para escoamento da nossa produção, as questões de mobilidade urbana que dependem de infraestrutura... São custos adicionais que nos dificultam não só o o ao mercado global mas impedem que nosso mercado cresça. Esta é uma agenda estrutural difícil e de longo prazo. Mas se conseguirmos reduzir custos e tivermos o a tecnologias, de preferência produzidas no País, já alcançaremos um nível de competitividade muito maior do que temos hoje. E “A partir do momento que as empresas que hoje só importam começarem a produzir no Brasil competirão de igual para igual e tenho certeza de que poderão se somar à Anfavea como parceiras nessa luta pela produção local. Mas até que isso aconteça não podemos permitir a pilhagem do mercado brasileiro.” Como foi feita a sua indicação ao cargo de presidente executivo? Isto aconteceu por meio de um processo muito transparente e profissional. Como diretor executivo da entidade em determinado momento eu me afastei dessa discussão, porque houve um processo seletivo com a contratação de uma empresa de busca de executivos. Eu fiz entrevistas e concorri com outros candidatos. No fim fui a escolha unânime do conselho da Anfavea, formado pelos vice-presidentes. Mas isto é parte de um processo maior, que é a modernização da governança da Anfavea, que antes elegia um presidente dos quadros das empresas associadas e agora escolheu um executivo do mercado. A eleição não é mais necessária neste modelo, mas existe uma nuança, porque eu fui escolhido também para ser presidente do Sinfavea [sindicato patronal dos fabricantes de veículos] e, aí sim, precisei ser eleito, por questões legais. Quais são as prioridades da sua gestão? É um tripé: introdução e o a novas tecnologias, redução de custos e localização da produção. Primeiro eu

13 AutoData | Maio 2025 Todos os presidentes tiveram este sonho porque ele é necessário. Já chegamos a emplacar 3,8 milhões de unidades [em 2012], temos capacidade instalada para 4,5 milhões de unidades/ano, mas em 2024 emplacamos 2,6 milhões, ainda pouco mais de 1 milhão abaixo do nosso recorde. Os últimos dez anos foram muito desafiadores, tivemos uma crise institucional no País, amos por crises internacionais e uma pandemia no meio, tudo fez com que o mercado se retraísse. Chegamos agora, em 2025, a patamares pré-pandemia, com emplacamento no nível de 2019. Nossa previsão hoje, sem nenhuma revisão ainda, é que chegaremos ao fim deste ano com crescimento das vendas domésticas de 6% a 7%, o que totalizará 2,8 milhões de unidades. É possível ir além? É plenamente possível, mas é necessário trabalhar muito para isto. Precisamos negociar os aspectos regulatórios [do Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação], como as metas de eficiência energética e de desempenho estrutural. Também trabalho com as regulamentações do Ibama, nas pautas de aumento ou redução de alíquotas do imposto de importação, atuo na comunicação e reputação do setor, pedimos a negociação de mais acordos comerciais. Ou seja, fazemos tudo o que pode fazer a Anfavea para fortalecer o sistema regulatório e ampliar o mercado. Mas existem questões estruturais e conjunturais, hoje, que estão fora do nosso controle. O juro elevado é um destes fatores: um aumento porcentual, ainda que marginal, na taxa de juros afeta o nosso mercado. A inflação corroendo a renda das famílias também diminui o consumo de veículos. Na América Latina a terceira perna do tripé é a localização da produção. Sou presidente de uma associação nacional de fabricantes e, tenho dito e repetido, a produção local é fundamental para o País. Todos os presidentes da Anfavea na última década tiveram o mesmo sonho de fazer as fábricas voltarem a produzir próximo da capacidade máxima de cerca de 4 milhões de veículos por ano no Brasil. Nenhum deles conseguiu realizar este sonho. Qual é a sua visão a respeito do necessário crescimento da produção no Brasil? “ Sou presidente de uma associação nacional de fabricantes e, tenho dito e repetido, a produção local é fundamental para o País.”

14 FROM THE TOP » IGOR CALVET, ANFAVEA Maio 2025 | AutoData novos competidores estão reduzindo nossa participação neste mercado, o ritmo das economias nem sempre é bom, está em curso uma guerra tarifária global. Neste cenário o que precisamos fazer é tirar proveito do fato de que já temos capacidade instalada, podemos produzir mais sem ter de fazer novos investimentos para isto. Também temos tecnologia, capacidade de inovação e engenharia automotiva forte. Qual é o papel da Anfavea na integração dos mercados latino-americanos? O Brasil é o sexto maior mercado de veículos do mundo [já foi o quarto]. Este tamanho nos fez durante algum tempo acreditar que o mercado doméstico bastava, colocando as exportações como segunda opção. O fato é que nesse período outros competidores globais, inclusive das próprias associadas da Anfavea, enxergaram na América Latina um grande mercado. Há dez anos nós tínhamos participação de 25% nas vendas dos mercados latino-americanos, hoje chegamos a 13%. No mesmo período a China tinha 5% e hoje chega a mais de 20% na região. Como o mercado automotivo tem comércio istrado, os governos precisam fazer acordos, como temos com México, Colômbia, Argentina e Chile. A Anfavea não trabalha sozinha nisso, precisa de interação com o poder público. Então o papel da entidade nesta questão é interagir com os governos para que sejam firmados novos acordos e que sejam aprofundados os já existentes. Há outro ponto: é preciso trabalhar na harmonização regulatória dos países. Existem regulações completamente distintas e isto nos impõe custos adicionais para produzir carros com configurações diferentes para cada mercado. Se não fizermos essa harmonização na América Latina acho que vamos perder esse mercado. Faz pouco mais de um ano que o governo aprovou o Mover, a política industrial para o setor automotivo que sucedeu ao Rota 2030. Neste período foram regulamentados os créditos tributários para ajudar a financiar investimentos da indústria e só em abril foi publicado o decreto sobre metas obrigatórias de eficiência energética, segurança e reciclagem. Ainda são necessárias várias regulamentações. Pelo lado da Anfavea existem discordâncias de associados que estão atrasando essas regulamentações? Pelo lado da Anfavea nada está atrasando o Mover. Nós já tínhamos publicamente solicitado ao governo que promovesse a publicação dos atos regulatórios que faltam. E nós sauda- “ A Anfavea considera uma afronta qualquer pleito de redução da alíquota do imposto de importação para CKD e SKD. É uma afronta às empresas que fazem investimentos bilionários no Brasil, ao governo brasileiro que tem política industrial e aos trabalhadores.”

15 AutoData | Maio 2025

16 FROM THE TOP » IGOR CALVET, ANFAVEA Maio 2025 | AutoData mos a regulamentação que já foi feita, porque em 2024 isto permitiu o anúncio de investimentos da indústria, de R$ 130 bilhões dos fabricantes de veículos e que chegam a R$ 180 bilhões se somar os fornecedores de autopeças. Isto aconteceu porque o Mover trouxe previsibilidade. Agora veio o decreto com os requisitos obrigatórios. Óbvio que as regulamentações que vêm depois são fundamentais para traçar especificamente essas metas, mas já estamos no nível dos engenheiros. No nível decisório dos grandes executivos, não só os nacionais como os globais, com a sanção [da lei e do decreto] eles já deram resposta, aprovaram investimentos. A demora na publicação de regulamentações pode trazer alguma instabilidade, mas agora as portarias precisam ser publicadas, são uma decorrência do decreto de um mês atrás. Há mais de um ano a Anfavea solicita ao governo a retomada do imposto de importação no patamar de 35% sobre os carros híbridos e elétricos. A alíquota está prevista para voltar a este patamar só no meio de 2026. Por que é necessário elevar a tarifa sobre os veículos que a indústria nacional não produz aqui? Este pleito continua valendo. No ano ado, às vésperas do aumento da alíquota para 18% sobre elétricos, observamos um pico de importações. Nós chegamos ao fim do ano com um estoque de veículos elétricos e híbridos no País da ordem de 80 mil unidades. A média dos emplacamentos de veículos elétricos no Brasil está em 5 mil por mês, se anualizar dá 60 mil emplacamentos, então tínhamos estoque de elétricos “ A sanção do Mover, em 2024, permitiu o anúncio de investimentos da indústria, de R$ 130 bilhões dos fabricantes de veículos e que chegam a R$ 180 bilhões se somar os fornecedores de autopeças. Isto aconteceu porque o Mover trouxe previsibilidade ao setor.” para mais de um ano de vendas. Este excesso de estoque desregula o mercado, porque o consumidor não compra. E aí temos outro efeito muito ruim: para desovar este estoque começa a política de preços predatórios, que desorganiza o mercado, com bonificações altas que desvalorizam os veículos e prejudicam os consumidores. Isto provoca danos à competição e causa perdas de todos os lados. Por causa desta situação o nosso pleito continua e a briga pela localização da produção continuará. Não se pode conceder benefícios que não sejam equânimes à indústria que produz aqui. Mesmo que este tipo de veículo ainda não seja produzido no País as empresas anunciaram investimentos no Brasil e grande parte deles são justamente nessas tecnologias [de eletrificação]. Se não houver um balanceamento [nas importações] estes investimentos anunciados podem nem chegar porque nosso mercado já terá sido predado.

17 AutoData | Maio 2025 Afronta e falta de respeito. É assim que seu antecessor e agora o senhor se referem a este pedido de redução de tarifa para montagem de kits SKD e CKD. De certa forma isto não afasta uma afiliação à Anfavea da BYD e de outros fabricantes chineses? Não seria melhor trazê-los para dentro da entidade? Tenho grande respeito por todas as empresas, mas na Anfavea temos um compromisso com a produção de conhecimento e localização da produção no País. Todos são muito bem-vindos, a entidade não faz nenhuma discriminação por empresa ou por origem do capital. A partir do momento em que essas empresas começarem a produzir no Brasil competirão de igual para igual e tenho certeza de que poderão se somar à Anfavea como parceiras nessa luta pela produção local. Mas até que isso aconteça não podemos permitir a pilhagem do mercado brasileiro. Alguns dos fabricantes associados à Anfavea já importam ou têm planos de importar carros elétricos dos seus sócios na China. A posição da entidade de retomar o imposto de importação a 35% sobre carros elétricos e híbridos não vai contra o interesse dessas empresas associadas? Uma coisa é você importar baixos volumes para complementar a linha de produtos. Outra é importar grandes quantidades sem querer localizar a produção. Pode começar importando um produto e, se houver demanda, o associado vai querer produzir aqui, é isto que interessa à posição setorial da Anfavea. E se o imposto de importação aumentar agora será para todos, então não vamos prejudicar nenhum associado em particular. Qual é a posição e ação possível da Anfavea sobre o pedido da fabricante chinesa BYD para reduzir as tarifas de importação de partes importadas para serem só montadas no Brasil? A Anfavea considera uma afronta qualquer pleito de redução da alíquota do imposto de importação para CKD e SKD, que é o nome técnico dado à importação de partes para montagem local. É uma afronta a todos que fizeram investimentos bilionários no Brasil, que estão há décadas produzindo aqui. É uma afronta ao governo brasileiro também, porque existe uma política industrial para ampliar a base produtiva, e esse pleito é para diminuir a industrialização local e não para sofisticá-la. Por fim é uma afronta ao trabalhador brasileiro, pois para não querer aprofundar a produção no Brasil, só apertar um ou outro parafuso, não são necessários muitos empregados. Então nós somos contrários e vamos lutar contra isso.

18 Maio 2025 | AutoData EVENTO AUTODATA » FÓRUM PERSPECTIVAS AUTOMÓVEIS 2025 A alta dos juros foi a tônica dos debates durante a tarde em que foi realizado o Fórum AutoData Perspectivas Automóveis 2025, na terça- -feira, 13 de maio. Todos, em maior ou menor escala, item os reflexos negativos para o mercado da Selic hoje estipulada pelo Banco Central em 14,75% ano, com expectativa de encerrar 2025 em 15,25%. Uma entidade que já revisou para baixo a perspectiva patra o ano foi a Abla, AssoPor Soraia Abreu Pedrozo Juro em alta provoca baixa na expectativa de vendas de automóveis Locadoras devem diminuir o ritmo de compras e projeção para veículos usados agora é mais conservadora ciação Brasileira das Locadoras de Automóveis. Da projeção de comprar 650 mil veículos até dezembro o número baixou para 00 mil a 620 mil unidades – patamar que ficaria abaixo dos 650 mil do ano ado mas acima do registrado em 2023. Foi o que apontou o presidente da entidade, Marco Aurélio Nazaré: “Mesmo que Anfavea e Fenabrave ainda projetem alta para a venda de novos veículos para as locadoras o custo do capital está elevado”.

19 AutoData | Maio 2025 A nova perspectiva da Abla ainda poderá ser revisada após o fechamento do primeiro semestre, afirmou Nazaré, ao justificar que a entidade está analisando mês a mês o volume de compras das suas associadas que, mesmo com alto custo, ainda precisam renovar parte da sua frota. REVISÃO NO FIM DO SEMESTRE A Fenabrave, que reúne os concessionários, segue o mesmo pensamento: aguardar até o fim de junho para verificar se fará algum ajuste na projeção para o ano. Por ora está mantida a expectativa de crescer 5% sobre os 2,4 milhões de veículos do ano ado e encerrar 2025 com 2,6 milhões. Embora o presidente da entidade, Arcélio Júnior, tenha ressaltado que o número, se concretizado, ficará 28% aquém do recorde de vendas de 2012, de 3,6 milhões de veículos leves, a distância no ano ado era um pouco maior, 31,6%. Ele está otimista, portanto, e espera que a revisão no fim dos primeiros seis meses do ano seja para cima: “O principal fator que nos anima é a aprovação do marco legal das garantias, pois acreditamos que ampliará o apetite por crédito dos bancos, apesar dos juros altos, que só deverão começar a diminuir no ano que vem. E o segundo semestre sempre traz tendência maior de vendas do que o primeiro”. USADOS TAMBÉM AFETADOS A Fenauto, que no ano ado celebrou recorde com a comercialização de 15,7 milhões de veículos, para este ano, diante do novo cenário, optou por traçar duas perspectivas, uma considerada “agressiva” por seu presidente, Enílson Sales, com alta de 11%, para 17,6 milhões de unidades negociadas, e outra “conservadora”, com avanço de apenas 2%, totalizando 16 milhões de transferências, o que ainda assim estabeleceria novo recorde histórico. Durante o fórum ele apontou que tudo indica que a segunda projeção terá mais possibilidades de se concretizar: “É preciso considerar que nos quatro primeiros meses do ano registramos incremento de 11% nas vendas, mas em abril o crescimento foi de 8%. Claramente há uma desaceleração e o mercado terá de enfrentar os desafios propostos pela economia”. Diante da expectativa de alta do PIB de 1,9% Sales reforçou que é preciso lançar mão de projeção mais conservadora: “Temos a deterioração do cenário econômico, em que o IPCA aponta para 5,7% e a Selic, a fim de conter a alta da inflação, deverá encerrar o ano em 15,5%. Diante disto a inadimplência aumenta e o escore mais segura ainda mais a oferta de crédito”. O dirigente estimou que a taxa de aprovação de financiamentos, hoje girando em torno de 52% a 58%, foi reduzida em 4 pontos porcentuais na atual conjuntura. Na sua avaliação os juros tendem a impactar mais os veículos zero-quilômetro e os seminovos, com até três anos de uso. No caso dos usados acima de quatro anos

20 Maio 2025 | AutoData EVENTO AUTODATA » FÓRUM PERSPECTIVAS AUTOMÓVEIS 2025 o consumidor costuma pensar mais se o valor da prestação cabe no bolso. FABRICANTES PREOCUPADOS Fabricantes de veículos como Volkswagen e Renault estão preocupados com a escalada dos juros e, consequentemente, da inadimplência. Desde o segundo semestre do ano ado os índices estão subindo, segundo Roger Corassa, vice- -presidente de vendas e marketing da Volkswagen, o que define o momento como de cautela: “Precisamos acompanhar o cenário de perto para entender este avanço. Por isto é tão importante ter o banco Volkswagen Financial Services próximo das nossas operações. Hoje os juros são um dos mais altos já registrados no País”. Segundo Corassa as vendas financiadas representam 55% da demanda e, atualmente, para atrair clientes e conseguir oferecer taxas melhores que as praticadas pelo mercado, a montadora tem subsidiado parte do custo de financiamento por meio do seu braço financeiro. Mas isto gera custos para a companhia e afeta os resultados. Arnaud Mourebrun, diretor de vendas e rede da Renault, concordou que a maior preocupação, hoje, são os juros elevados, chegando a quase 30% na ponta final para os clientes. Para driblar este cenário e conseguir atender a seus clientes a Renault também se vale de sua própria instituição: “Trabalhamos junto com a Mobilize Financial Services para oferecer as melhores condições e taxas para os clientes, com opções mais competitivas do que a maioria, incluindo grandes bancos que atuam no segmento automotivo. Fazemos o possível para entregar as melhores alternativas”. Ambas as montadoras apostam em crescimento de 4% a 5% para os emplacamentos de automóveis e comerciais leves, chegando a 2 milhões 580 mil unidades até o fim do ano, em linha com a projeção da Fenabrave. Individualmente a Volkswagen projeta alta acima do mercado e a Renault pretende acompanhar o ritmo de expansão. TOYOTA COMPENSA COM EXPORTAÇÃO A Toyota, que exporta em torno de 40% da sua produção local, tem nas vendas externas importante ferramenta para compensar a queda do mercado doméstico. A projeção para este ano, segundo o diretor comercial da companhia, José Ricardo Gomes, é a de elevar o volume de veículos fabricados no Brasil em 3%, para 200 mil unidades. A perspectiva é reforçada pelo lançamento do terceiro modelo híbrido flex até o fim do ano que, embora não confirmado, tudo indica que seja o Yaris Cross: “Temos

21 AutoData | Maio 2025 uma expectativa muito positiva do Brasil. As oscilações e questões políticas são de curto prazo. Mas vivemos em região e País que têm crescimentos e evolução constantes”. MARCAS Para a marca da Toyota, a Lexus, a projeção é crescer 30% no Brasil em 2025. A Lexus acabou de inaugurar sua décima-primeira concessionária no País, em Fortaleza, CE, e foi lançado o segundo produto híbrido plug-in NX350h+: “Vemos a marca como vitrine de novas tecnologias de eletrificação e automação”, afirma Gomes. Para Michele Menchini, diretora de vendas da BMW, é fato que o encarecimento do crédito gera impacto nos negócios mas por outro lado joga luz em outros temas que a montadora vem trabalhando com concessionários, como a gestão cuidadosa do estoque: “O giro precisa ser maior quando se fala em varejo. E a BMW Serviços Financeiros se mostra parceira fundamental para que tenhamos ritmo acelerado de vendas mesmo em tempos de juros elevados. É uma das nossas fortalezas”. Com relação ao desempenho da empresa ela contou que, apesar dos desafios, houve crescimento: “Para nós este é um sinal muito positivo. A BMW acompanhou o mercado e entregou mais veículos aos clientes. Para se ter como base 2024 foi o melhor ano da marca no Brasil, com 16,2 mil carros. E, para este ano, esperamos ter um novo recorde com o lançamento da nova geração do X3 e a atualização do i4 em duas versões”. APETITE POR ELETRIFICADOS O apetite por veículos eletrificados, a propósito, deverá continuar de forma crescente, entende Thiago Sugahara, diretor do grupo de veículos leves da ABVE, Associação Brasileira do Veículo Elétrico. Nos últimos anos, ele cita, o segmento avançou na média de 73% ao ano. Em 2020 foram emplacados 20 mil veículos eletrificados, o equivalente a 1% do mercado brasileiro e, em 2024, o número saltou para 177 mil, ou 7% de participação: “Significa que se houver oferta de produtos e serviços cada vez mais íveis a tendência é que a eletromobilidade cresça, principalmente com a chegada do Mover. Fato é que é um caminho sem volta”. O diretor da ABVE exaltou o dado de que o segmento de eletrificados saiu de 7 mil para 9 mil emplacamentos: “Existe oportunidade enorme no mercado brasileiro de alavancar este processo de eletrificação, e não só no segmento de luxo. Os números são muito vigorosos, por isto é importante investir. O objetivo é também que haja a transferência de tecnologia”.

O Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2025 é um dos eventos mais tradicionais e relevantes do setor automotivo brasileiro. Ao longo de suas 25 edições, o seminário tem proporcionado um espaço essencial para a discussão e troca de informações sobre o futuro da indústria e do mercado. PREPARANDO O CAMINHO PARA O FUTURO DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA! Informações/inscrições: (11) 93372 1801 | [email protected] | autodata-br.spinforma.net MILENIUM CENTRO DE CONVENÇÕES (SÃO PAULO), R. DR. BACELAR, 1043 - VILA CLEMENTINO, SÃO PAULO/SP 25de JUNHO IMPORTÂNCIA DO EVENTO Neste ano, o seminário assume uma relevância especial, em razão dos diversos fatores geopolíticos que impactam tanto o Brasil quanto o cenário global. Esses fatores poderão influenciar decisivamente os negócios da indústria automotiva brasileira no segundo semestre de 2025.

Os principais líderes do setor estarão presentes no Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2025 para avaliar e projetar o ritmo dos negócios nos meses finais do ano. A participação destas figuras-chave do setor será fundamental para uma compreensão aprofundada do cenário atual. Confira abaixo alguns dos importantes líderes que estão sendo convidados para o evento: INSIGHTS ESTRATÉGICOS O seminário oferecerá uma oportunidade única para conhecer o provável ritmo da indústria, bem como o comportamento do mercado e das exportações no segundo semestre. Esses insights são estratégicos para o planejamento e a tomada de decisões dos negócios. IGOR CARVET, presidente executivo da Anfavea MARCOS BENTO, presidente da Abraciclo CLÁUDIO SAHAD, presidente do Sindipeças ROBERTO CORTES, presidente da VWCO RICARDO BASTOS, presidente da ABVE MAURO CORREIA, CEO da HPE Mitsubishi Motors do Brasil CONFIRA O PROGRAMA COMPLETO DO SEMINÁRIO CLICANDO AQUI

24 Maio 2025 | AutoData AUTOPEÇAS » REPOSIÇÃO As mais otimistas expectativas foram superadas pela décima-sexta edição da Automec, considerada a maior dos 32 anos de história da feira bienal, confirmando a força crescente econômica e política do aftermarket automotivo no País. O evento, realizado este ano de 22 a 26 de abril, trouxe ao São Paulo Expo 1,5 mil marcas de autopeças, equipamentos e serviços – número 30% acima do registrado em 2023 – que Por Pedro Kutney Maior Automec da história mostra força do aftermarket Evento superou expectativas com número recorde de 105 mil visitantes e 223 mil contatos de negócios, elevando importância político-econômica do mercado de reposição de autopeças ocuparam todos os 105 mil m2 da área coberta do e também os 50 mil m2 da área externa. Segundo a empresa organizadora RX em cinco dias 105 mil visitantes aram pelas catracas – a expectativa era de 90 mil –, causando intenso trânsito de pessoas nos corredores do evento e de carros nas subdimensionadas ruas ao redor, bem como no superlotado estacionamento com diária a R$ 90. Apesar Divulgação/Automec

25 AutoData | Maio 2025 Alckmin desata a fita de abertura da Automec 2025: evento mostra força política. do desafio à paciência devido ao gargalo estrutural os expositores não reclamam dos resultados: a RX calcula que o evento gerou 223 mil contatos de negócios com potencial para se transformar em vendas firmes nos próximos meses. Eduardo Marchetti, gerente da Automec na RX, avalia que este é o grande número do evento: “O volume expressivo de leads [contatos negociais] confirma a Automec como o ambiente ideal para fortalecer conexões e impulsionar negócios no mercado de reposição e reparação automotiva”. De olho no mercado brasileiro de reposição que vem crescendo à taxa de 11% ao ano para atender à manutenção da frota de 48 milhões de veículos em circulação no País, a presença de empresas internacionais foi 20% maior com relação à edição anterior, com marcas vindas da Turquia, Argentina, Índia, China, Coreia, Japão, Estados Unidos, Alemanha e Holanda. Os chineses, como sempre acontece em eventos do aftermarket no mundo inteiro, vieram em peso e foram isolados nos fundos do SP Expo, mas seus pequenos estandes representam só uma Divulgação/MDIC parte de sua presença no evento pois boa parte das empresas estabelecidas no Brasil importa componentes da China para revendê-los aqui. FORÇA POLÍTICA E COBRANÇAS A força econômica do setor de reposição e reparação automotiva demonstrada em seu principal evento também se converte em importância política: a abertura da Automec contou com a presença e o discurso de Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e festejado ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que fez promessas, ouviu cobranças e depois circulou pelos corredores do SP Expo, com paradas para cafés, conversas e piadas nos estandes da Bosch e da Randoncorp – dentre os maiores faturamentos da feira. “Ele [Alckmin] gosta mais de conversar conosco do que com as montadoras porque somos mais unidos e temos interesses convergentes, o que nem sempre acontece com os fabricantes de veículos”, disse um graúdo dirigente do setor para justificar o comportamento solícito do vice-presidente e ministro na abertura da Automec.

26 Maio 2025 | AutoData AUTOPEÇAS » REPOSIÇÃO Na cerimônia oficial de abertura representantes da indústria cobraram do governo um destes interesses convergentes do setor: a adoção de um programa de inspeção obrigatória de emissões e segurança dos veículos em circulação, que por consequência pode aquecer ainda mais o mercado de reposição e reparação. Cláudio Sahad, presidente do Sindipeças, apontou que este é o caminho para tornar viável o programa de renovação de frota: “A inspeção técnica veicular é a mola propulsora da renovação de frota. Ninguém vai trocar o veículo velho se não for reprovado em uma certificação obrigatória”. Olhando para Alckimin, que ouvia no palco, Sahad cobrou que é preciso modificar a visão sobre este tema: “Não é mais viável o discurso retrógado de alguns políticos de que a inspeção é impopular, não no mundo que se preocupa com a qualidade de vida da população”. Antônio Carlos Fiola, presidente do Sindirepa, foi na mesma linha: “A inspeção técnica veicular é fundamental para melhorar a segurança e as emissões dos veículos. Um carro com sonda lambda ou catalisador com defeito, por exemplo, polui dez vezes mais”. Alckmin pouco acusou a cobrança: na sua vez de discursar disse, apenas, que o governo estava aberto a discutir com o setor a adoção do programa de inspeção e de renovação de frota, algo que se discute há décadas, em vários governos, sem que nunca um programa se tornasse viável. Mas o vice-presidente reconhece a importância do tema: “A inspeção é importante porque é uma questão de saúde pública, acidentes de trânsito são a terceira maior causa de mortes no País. Em São Paulo morre mais gente no trânsito do que assassinados”. O ministro preferiu destacar a instituição do Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, lançado pelo governo há pouco mais de um ano com R$ 19 bilhões em incentivos tributários para investimentos em projetos da indústria automotiva instalada no País – que tem adesão dos fabricantes de autopeças e, segundo o Sindipeças, estimula as empresas do setor a investir cerca de R$ 50 bilhões até a virada desta década. O vice-presidente também tocou em outro ponto que interessa ao setor: em breve o governo lançará um novo Reintegra, nomeado Acredita Exportação, que devolverá a empresas exportadoras 3% do valor exportado a título de restituição de resíduos tributários que restam em impostos cobrados ao longo da cadeia produtiva: “Será um Reintegra de transição até que a reforma tributária entre em vigor plenamente, pois no novo sistema não haverá mais créditos tributários a cobrar do governo”. REVISÃO DE TARIFAS A AUTOPEÇAS Por fim, em mais uma comprovação de que ouve e se esforça para atender os apelos do setor, Alckmin afirmou que seu ministério prepara uma drástica redução de ex-tarifários de autopeças importadas

27 AutoData | Maio 2025 sem produção nacional equivalente, que pagam tarifas aduaneiras reduzidas e até mesmo simbólicas: “Existe a necessidade de se rever milhares de ex-tarifários pois isto não pode ser eterno. Precisamos fortalecer nossa indústria e nossos empregos”. O processo de revisão das tarifas é demanda antiga dos fabricantes de autopeças no País e já está sendo conduzido por Uallace Moreira, secretário de desenvolvimento industrial, inovação, comércio e serviços do MDIC, que também estava presente na cerimônia de abertura da Automec. Em conversa com a Agência AutoData Moreira contou que a intenção é racionalizar os atuais 9 mil ex-tarifários concedidos e diminuir este número pelo menos à metade, estancando o crescimento desenfreado dessas concessões nos últimos anos: “Com a portaria 308, feita pelo governo anterior, o número de ex-tarifários foi descontrolado, uma vez que ou a incluir três critérios: preço, prazo e eficiência técnica. Então, mesmo com produção nacional, a redução [da tarifa] era concedida”. O secretário informa que um dos pontos de atenção serão os pedidos de ex- -tarifários sobre conjuntos complexos, que envolvem diversos componentes, alguns deles produzidos no País, mas que não são identificados porque fazem parte de um sistema ou módulo. Um dos alvos citados por Moreira são as caixas de câmbio automático, hoje 100% importadas, apesar de já haver escala suficiente para produção nacional: “Isto é inconcebível em um dos maiores mercados do mundo. É preciso intensificar a produção desta cadeia. Até porque o Mover agrega maior benefício tributário na medida em que se verticaliza o processo produtivo. Então é de interesse do próprio setor que isto aconteça, ainda mais para oferecer resiliência na cadeia produtiva interna”. POLO DE CONHECIMENTO A Automec também está se firmando como polo de conhecimento do setor: a Arena de Conteúdos montada dentro do SP Expo somou 40 horas de palestras e painéis com temas sobre o setor automotivo, aftermarket e um dia dedicado à sustentabilidade em mais uma edição do Fórum de Transporte Sustentável. Estreante na edição de 2025 a Universidade Automec teve programação de 70 horas de cursos e treinamentos para repositores e reparadores em parceria com Senai, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, IQA, Instituto da Qualidade Automotiva, ZF e Tirreno. O IQA realizou mais de setenta provas e o Senai emitiu centenas de certificados de qualificação profissional em áreas como descarbonização, sustentabilidade, digitalização e novos combustíveis. A próxima edição da Automec já está marcada: 20 a 24 de abril de 2027, no mesmo São Paulo Expo, com expectativa de nova multidão. [Com reportagens de Caio Bednarski e Soraia Abreu Pedrozo]

28 Maio 2025 | AutoData AUTOPEÇAS » REPOSIÇÃO BorgWarner A empresa que completa 50 anos de operação no Brasil e já soma produção de 8 milhões de turbocompressores – número acelerado nos últimos anos pelo fornecimento a motores turboflex da Volkswagen e Stellantis –, além de 6 milhões de embreagens viscosas e ventiladores e mais 6 milhões de correntes de sincronismo, também tem presença crescente no aftermarket. O faturamento anual na reposição vem crescendo e dobrou na comparação com 2019, período pré-pandemia. A BorgWarner deverá em futuro próximo ampliar seus serviços de pós-venda na área de eletrificação, pois desde 2023 produz no País sistemas de baterias para veículos pesados elétricos – os primeiros clientes são os ônibus elétricos da Mercedes-Benz. Bosch O maior fornecedor global de componentes e sistemas aos fabricantes de veículos tem importante presença no setor de repoEmpresas expõem crescimento e investimento na Automec Para além de autopeças, equipamentos e serviços as empresas expositoras na Automec 2025 também mostraram seu desempenho positivo no aftermarket automotivo, que enseja investimentos em ampliação da produção e nacionalização de componentes. A extensa cobertura do evento pela Agência AutoData mostrou alguns desses casos, resumidos a seguir: Divulgação/BorgWarner Divulgação/Automec Divulgação/Automec sição e reparação automotiva. A empresa não revela a participação do aftermarket em seus negócios mas boa parte dos produtos comercializados no Brasil é produzida pela própria Bosch e 60% deles têm fabricação nacional. Na Automec a Bosch anunciou que vai ampliar em 60% o número de oficinas credenciadas com sua marca na América do Sul, região que já tem 2 mil centros de manutenção franqueados, 1,4 mil deles no Brasil, que empregam cerca de 14 mil reparadores e fazem 3 milhões de atendimentos por ano. Também foi lançado este ano programa de qualificação para atender a carros elétricos e híbridos. Continental A divisão de componentes automotivos do grupo – que está se separando das unidades de pneus e correias e a partir de setembro adotará o novo nome Aumovio – está ampliando de forma acelerada no aftermarket brasileiro: a área de negócios já dobrou de tamanho de 2019 a 2023, responde atualmente por 30% do faturamento e o objetivo é alcançar expansão de 300% até 2028. Atuando neste mercado com sistemas de frenagem, peças de motor e eletrônicos, como tacógrafos, 100% dos itens vendidos para veículos pesados são nacionalizados, porcentual que cai a 60% no caso de automóveis e comerciais leves.

29 AutoData | Maio 2025 Cummins A empresa divulgou durante sua participação na Automec avanços expressivos no aftermarket, que já representa 20% do faturamento da divisão de motores diesel. As vendas de peças e remanufaturados cresceram 20% no ano ado em comparação com 2023 e a projeção é de nova expansão de 10% em 2025. Cerca de um terço desta receita vem da linha de remanufaturados, a ReCon, que cresceu 37% em 2024. A divisão de eixos trativos – incorporada desde 2022 com a compra da Meritor – aumentou em 16% suas vendas no mercado de reposição em 2024 e este ano a expectativa é de crescer mais 12%. Dana Após voltar ao mercado de reposição em 2017 – de 2004 a 2016 o segmento ficou a cargo da Affinia – a Dana reestruturou o portfólio de produtos, formado principalmente por componentes de transmissão, suspensão, juntas homocinéticas, eixos cardã, rolamentos e engregagens. Até o ano ado o faturamento no aftermarket cresceu 2,2 vezes. Na Automec 2025 a empresa divulgou que a meta é dobrar novamente esta receita até 2030. DPaschoal m ano após ser comprada pelo Grupo Stellantis, a rede de oficinas especializada em pneus, amortecedores e freios continua crescendo e promete anunciar plano de expansão em maio. A empresa instalou pela primeira vez um estande na Automec para mostrar ao público que sua atuação vai além dos 123 centros próprios de manutenção e de mais 120 pontos de atendimento franqueados. A DPaschoal também tem 28 centros de distribuição de peças DPK, sete recapadores de pneus, dezoito Truck Centers, comercializa a linha Bproauto de autopeças e lubrificantes, atua em capacitação técnica de reparadores com a plataforma Maxxi Trainning e, ainda, oferece financiamentos com a AutoCred. DRiV Empresa do Grupo Tenneco dedicada ao mercado de reposição e que abriga em seu guarda-chuva trinta marcas de autopeças, como Monroe e Monroe Axios, de 2019 a 2024 dobrou seu faturamento – no ano ado a operação brasileira foi a que mais cresceu no mundo. E este ano a meta é crescer mais 25%. Na Automec a DRiV anunciou que vai importar para o Brasil componentes de mais três marcas, todos com possibilidade de nacionalização na fábrica de Cotia, SP: são peças para motores FP Diesel, velas de ignição Champion e sensores eletrônicos, limpadores de para-brisa, radiadores, sistemas de aquecimento e ar-condicionado da Wagner. No Brasil, em 2024, o grupo investiu R$ 60 milhões na planta de Mogi Mirim, SP, para ampliar a capacidade de produção de amortecedores da Monroe em 30%, para 7 milhões de unidades/ano. Este ano foi concluído aporte de R$ 5 milhões para abrir o centro de distribuição próprio de 20 mil m2 em Cajamar, SP. Divulgação/DPaschoal Divulgação/DRiV

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